terça-feira, 28 de setembro de 2010

Decisão de Vida



 Demorou anos. Foi uma lenta preparação, que poderia ter demorado a vida toda. Em meu caso, foi o desemprego em terra estranha, que me forçou a uma decisão radical de como eu deveria conduzir minha vida dali em diante. A culminação de diversos eventos inesperados em minha vida levou-me a uma opção que alterou o meu relacionamento com a sociedade humana. Naquele momento não desesperei. Pensei serenamente no próximo passo a tomar, sem beber, sem brigar com ninguém, como se eu estivesse esperando aquela oportunidade para fazer um desvio decisivo em minha rota. Analisei as circunstâncias, que eram favoráveis. Eu tinha bastante crédito financeiro, graças ao fato de pagar as contas em dia. Dessa forma, consegui manter-me sem problemas desde setembro de 2001 a maio de 2006, apesar de ter de pagar uma hipoteca de quase US$1000 mil mensais, manter um carro, e outras despesas da ordem de US$500. Aproveitei o tempo ajudando a pessoas da vizinhança através da igreja LDS (os mórmons), da qual me tornei sacerdote. Tornei-me sócio de uma loja de despacho de encomendas, cópias e arte computacional. Gastava horas por dia na internet, pesquisando coisas e defendendo o movimento do software de fonte aberta (Linux, OpenOffice, Firefox, Gimp etc.) Dentro desse emaranhado de atividades, tornei-me um aprendiz de sábio. Aprendi a ser feliz num mundo cheio de contradições. Como meu visto de especialista tinha-se expirado em 2001, aguardava os trâmites de meu visto de permanência. Em fins de 2005 esse visto me foi negado sem razão. Como não queria morar nos EUA ilegalmente, procurei uma saída honrosa para minha situação. Ela apareceu na forma de um convite a participar de uma empresa a ser fundada em Togo, na África ocidental. Havia um grupo de togoleses que planejava produzir computadores pessoais e estabelecer uma rede internet em seu país. Fizemos muitas reuniões semanais de planejamento.  Como o último passo,  obter o financiamento para dar início à operação, demorava, resolvi visitar o Brasil e ali esperar até o momento de partirmos para Togo. Vendi o carro, a hipoteca da casa e vim para o Brasil. Esperei durante um ano, até que me notificaram que uma crise energética em Togo impedia nosso projeto. Imaginei então um país sem luz à noite, e procurei uma solução para isso. Descobri na internet um novo produto industrial, o diodo emissor de luz branca, capaz de competir com a iluminação convencional de lâmpadas incandescentes e fluorescentes. Propus que fabricássemos lanternas e luminárias a DEL em Togo. Mas a China usou de um truque para dominar o mercado. Faziam artefatos com os DELs sobrecarregados; punham quatro pilhas ao invés de duas, para que os DELs durassem apenas dezenas de horas, e não as 100 mil horas de que são capazes. O projeto em Togo não deu certo, pois não se podia competir com os chineses.
Decidi vir para Piedade, porque aqui havia uma bambuzeria, pois o bambu é ótimo para fazer luminárias. Conheci o IPD Taipal, uma ONG que se ocupa em implantar a permacultura, e agora estou aqui, feliz e despreocupado, a trabalhar em prol da comunidade, na condição de aprendiz de sábio.
Logo que deixei os EUA, aquele país entrou em profunda crise imobiliária; o império americano sofreu uma queda parecida com o império romano. Conclui-se que sou mesmo um privilegiado, pois consegui livrar-me de uma crise colossal. E sou rico em sabedoria, sem que me invejem, ou tentem se apoderar de minha riqueza. Portanto, estou em paz com o mundo.

Um comentário:

  1. Solicito desculpas pela apresentacao que dificulta a leitura. Estou aa procura dos controles que permitem mudar as cores de fundo.

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